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  • Foto do escritorMirta Fernandes

NOVOS NOMES DO AMOR

A ARTE E OS NOVOS NOMES DO AMOR NA VIDA CONTEMPORÂNEA



NOVO = SURPRESA


O NOVO é o que não se sabe. O contingencial que comparece surpreendendo e desorganizando os arranjos estabelecidos e estabilizados. O NOVO interroga assim como a Psicanálise e a Arte, o sujeito com o qual dialogam. A partir de um ponto de real impossível de simbolizar sublinha o vazio que é o que caracteriza o humano e sua possibilidade de criar.


Em tempos do declínio do viril, do masculino e da função paterna como regulador e organizador dos limites, da moral e dos costumes, aparecem novos arranjos de modos de gozo que não se encontram orientados pela novela familiar edípica.


Onde não é mais uma interdição paterna que faz barreira ao gozo - que diz “não” e impõe uma renúncia pulsional que envia ao amor - como se dá agora, em nosso tempo, o acesso ao amor como possibilidade de pacificação para o gozo mortífero? Que outra via pela qual esse gozo pode ser pacificado?


O amor, possibilita efetuar o “milagre” de levar o ser falante a passar da repetição constante de um gozo parasitário, “asfixiante”, para aceder a um “lampejo” de desejo vivificante”.


O encontro com o analista, pela via do amor de transferência, pode possibilitar o sujeito a passar do registro de impotência diante da vida e de seus sintomas e angústias, à impossibilidade real que está para além de sua singular existência. Passar de um gozo mortificante a um lampejo de desejo vivificante. Uma nova possibilidade de laço. Uma nova forma de amar, um amor que possa habitar o vazio. Não um amor que transforme o contingencial em necessário, mas o amor com o real no horizonte como impossibilidade e que oferece lugar à criação, como se dá na arte.


Somente um encontro com o analista poderia abrir uma brecha para o amor? Para um novo amor? Importante lembrar uma advertência freudiana de não transformar a Psicanálise numa visão de mundo, em um sistema totalizante capaz de decifrar o sentido de tudo o que se apresente.


A arte, em todas as suas formas de expressão, sustenta um vazio onde um NOVO sempre presente interroga o falasser. Abre uma brecha, traz um ponto de estranheza e sustenta a impossibilidade de um sentido que absorva o real. Um furo verdadeiro.


Em Freud as expressões artísticas se regem pelo mecanismo da sublimação, em que as pulsões sexuais se orientam para objetos “culturais”, dessexualizados. Lacan introduz o problema do vazio como fundamental na sublimacao. Vazio que não oferece ao sujeito qualquer horizonte de satisfação do desejo com um objeto. Haja vista que poetas, pintores, músicos, artistas em geral, não menos do que não artistas, se matam, se automutilam, se deixam devastar pelo gozo até a morte.


A produção artística não garante por si só um tratamento do gozo mortificante, muito embora existam testemunhos de artistas que com sua obra construíram alicerces e vínculos que deram novos nomes às suas vidas.


Embora o NOVO no contemporâneo, como exigência de novidade, também possa expressar uma das formas atuais da pulsão de morte, as interrogações que as mudanças de hábitos, acontecimentos inéditos, reivindicações subjetivas vinculadas a novas formas de estar no mundo, novas formas de fazer laços, novas nomeações sociais, não podem também constituir-se em brechas para novos amores, novas formas de amor que incluam o real impossível da castração?


O sujeito humano vem ao mundo sem qualquer marcação previa, seus caracteres biológicos e genéticos não são determinantes para a constituição de sua subjetividade, sexualidade, seus desejos e escolhas ao longo da vida.


Podemos pensar as experimentações veiculadas pelos discursos TRANS e QUEER, que têm interrogado as questões de gênero e as identidades sexuais hoje, como um fazer-se outro não necessariamente a serviço de um gozo mortífero, mas de um gozo vivificante, da paixão pelo NOVO, pelo desconhecido? Dar vida a seu “infamiliar”, seu Outro, sem necessariamente fixar-se em um gênero ou identidade? Uma nova experimentação e testemunho de uma experiência singular, um NOVO? Tentativas singulares de habitar o próprio corpo, de lidar com as pulsões (estímulos internos) que invadem os seres falantes e para os quais não existem normas nem padrões pré-estabelecidos que possam aplacar a angústia existencial do ser humano.

A arte contemporânea e a psicanálise de orientação lacaniana, sustentam um desassossego, interrogações constantes que “perturbam” um sono tranquilo. Ou seja, introduzem e sustentam no mundo contemporâneo uma inquietação criativa, um espaço para o NOVO enquanto inédito, contingencial, surpreendente.

A arte, penso, é um recurso na vida assim como o amor. Amor entre os falantes e o amor de transferência. Ferramentas para manejar, operar e se possível criar e inventar novas formas de estar neste mundo.


MIRTA FERNANDES


objeto de arte na época do fim do belo: do objeto ao abjeto - Marie-Helène

objeto de arte na época do fim do belo: do objeto ao abjeto - Marie-Helène Br


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